top of page

A intrínseca política na formação docente.

Desde que nos entendemos por gente - e dizemos isso na perspectiva de que até mesmo as crianças são sujeitos - já compreendemos a importância da educação em nossas vidas.

Ouvimos frases como “temos que valorizar os estudos, sem isso você não será nada na vida”, ou então “se comporte na escola, pois o estudo é muito importante para tornar-se alguém”. Para além da questão de que não se torna sujeito dentro da escola, porque a criança por si só já é agente de suas próprias imaginações e culturas, essas frases parecem nunca abranger algo que não é superior à educação ou à criança, mas tão importante quanto: o professor.

Ninguém saberia ler se não fossemos nós, os professores e educadores. Não haveriam médicos, enfermeiras, poetas, artistas plásticos, engenheiros e as tantas profissões, se não fossemos nós, os professores e educadores.

No dia do professor, comemorado no dia 15 de outubro, ouvimos palavras lindas e emocionantes - e acreditamos que verdadeiramente sinceras - de pais que nos devotam carinho. Mas, afinal, para ser professor, o que é preciso?

Principalmente quando falamos dos mais pequenos, os adultos pensam que é tarefa fácil ser professora. E digo no feminino, porque somos em maioria, por um histórico - que, não por coincidência, também influi na ideia anterior - de que educar é natural das mulheres e, portanto, não há estudo necessário.

Mas a verdade é que a nossa profissão exige estudos políticos, sociais, culturais, históricos, antropológicos, e assim por diante… Então, por que será que há uma massiva desvalorização de nós, professoras, enquanto há, ao mesmo tempo, uma exaltação do educar? Qual o motivo dessa contradição?

A verdade é que o Brasil sofre uma grandiosa e massiva desvalorização docente do próprio Estado. Ao longo dos anos, muito se conquistou, mas ainda há muito há percorrer.

Como poderíamos dar aulas sem um salário adequado? Ou então, instrumentos pedagógicos para nos auxiliar durante as práticas, ou sequer um plano de carreira digno para seguirmos firmes nessa profissão que é tão bonita, mas ao mesmo tempo, tão desafiante. O que queremos dizer, então, é que para além do nosso estudo há uma série de implicações que estão relacionadas a uma política nociva à educação, como Darcy Ribeiro nos diz, “a crise na educação brasileira não é uma crise, é um projeto”.

Para além das políticas públicas que, não se enganem, apesar de nos dirigirmos ao Estado, não nos abstemos de nossas lutas, há também um enorme e revoltante desincentivo ao estudo continuado da profissão. Isso, por exemplo, acontece quando um documento político liberal chamado BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR - que mais tarde tornou-se lei - permite que pessoas com “notório saber” ensinam nas escolas sem sequer saber o que é o educar.

Nós estudamos Currículo e suas inúmeras políticas ocultas, estudamos tipos de Pedagogia que vão além do conhecimento mundano, estudamos a Educação como ciência, estudamos a criança como sujeito repleto de direitos e, ainda assim, somos vencidas por um “notório saber”.

Ainda, fazemos um convite aos educadores que nos lêem, que procurem ler mais sobre a inevitável política existente na educação e procurar o que está oculto naquilo que parece invisível. Como disse Paulo Freire:

“Só os educadores autoritários negam a solidariedade entre o ato de educar e o ato de ser educador pelos educandos, só eles separam o ato de ensinar do de aprender, de tal modo que ensina quem se supõe sabendo e aprende quem é tido como quem nada sabe.” (Freire, 1981)

Por isso, nós do Projeto Freire, convidamos vocês leitores a aprofundar-se nessa temática, que foi apenas pincelada nessas poucas palavras, e entender-se como sujeito político, também, da educação do nosso país.


Deixamos, por fim, um poema de Brecht para quem sabe provocá-los a debruçar-se sobre essa incrível e inevitável aventura, que todos nós passamos um dia, que é o Educar:


“O Analfabeto Político”

O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha,

do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha

e estufa o peito dizendo que odeia a política.

Não sabe o imbecil que da sua ignorância política

e o pior de todos os bandidos,

que é o político vigarista, pilantra,

corrupto e lacaio das empresas

nacionais e multinacionais.

- Bertold Brecht.



REFERÊNCIAS:

A educação como ato político partidário. Alberto, Damasceno … [et al]. Editora Cortez, São Paulo. 1988.


32 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page